MEMORIAL DO PROJETO
A proposta para o Paço Municipal de Várzea Paulista busca produzir uma centralidade ao município através de um espaço com característica singular e significativo. Organizando o território, equacionamos as demandas exigidas pelo programa e criamos relações com o entrono, tanto imediato quanto o mais distante.
RELAÇÃO COM A CIDADE
Através de uma reorganização do cruzamento da Avenida Fernão Dias Paes Leme com o viaduto que atravessa o rio Jundiaí e a linha férrea, conseguimos propor o deslocamento dos veículos pela avenida sem desvios, diminuindo e limitando a circulação na via que separa o terreno do Shopping Estação do terreno do Paço Municipal. Com um tráfego muito menor, foi proposta uma aproximação dos dois espaços, diminuindo o leito carroçável e aplicando métodos de traffic calming, na tentativa de recompor o lote histórico original; expandindo os limites do lote, e aproximando os equipamentos urbanos, como o próprio shopping center, o hotel, o Terminal Rodoviário Urbano e a praça do PEC (todos eles previstos no Projeto Urbano Centro) do Paço Municipal.
Instalado na continuação do eixo da Avenida Eduardo Castro, o edifício faz um prolongamento físico e visual desse eixo através da passarela para ciclistas e pedestres, conectando-o ao Projeto Urbano Norte, situado no lado oposto do rio Jundiaí e da linha férrea. Essa mesma passarela também faz a conexão com a nova estação da CPTM e com o parque linear às margens do Rio Jundiaí.
Além desse espaço ser simbólico, sua relação com as outras áreas da cidade reforça seu caráter central e de grande importância.
IMPLANTAÇÃO: EDIFÍCIO + ESPAÇO PÚBLICO
Baseado no conceito da Ágora grega, a implantação do edifício busca desenvolver o conceito de democracia, aproximando o cidadão da instituição, estreitando as relações com a sociedade, incentivando a troca de experiências, o encontro das pessoas, as relações humanas típicas. É o espaço símbolo da democracia e a centralidade da cidade.
Buscando um caráter público e aberto que o espaço deve ter, o edifício foi disposto no terreno de forma a criar espaços públicos distintos, que permitirão diferentes identificações, e serão utilizados de diversos modos.
No centro da implantação e da edificação, dividido em 2 níveis está localizado o que consideramos o térreo do edifício. Uma praça coberta que conecta os espaços públicos e os diferentes níveis forma o núcleo da implantação. O nível 720, denominado de térreo inferior, abriga as edificações que atendem ao uso mais público e de atendimento direto à população, e faz a conexão entre todos os espaços públicos do projeto. No térreo do nível 724 está o acesso ao Teatro Municipal e uma ampla laje livre de ocupação, configurando uma outra praça, com vista privilegiada dos espaços público circundantes.
Junto à Avenida Fernão Dias Paes Leme optou-se por estender o programa no térreo 720 para além da projeção da edificação, chegando até o limite do lote, o que cria uma relação mais urbana com a via e abrindo uma praça e estimulando seu uso.
Do lado oposto do terreno, junto à Avenida Ipiranga e ao Rio Jundiaí e a linha férrea, um grande espaço aberto, definido por um pavimento de concreto organizado em grelha e intermediado por áreas verdes fica à disposição dos usuários, entre eles os que chegam pela passarela, da estação de trem e, principalmente, dos espectadores dos espetáculos abertos do Teatro Municipal.
Na área mais próxima ao shopping, criou-se um espaço de circulação e permanência com diferentes níveis, resolvendo a questão de desnível entre o grande espaço aberto e a Avenida Fernão Dias. Através de escadas e patamares, um interessante e pulsante espaço é originado, permitindo usos distintos simultâneos em harmonia.
No canto Leste do terreno, próximo ao viaduto existente fica localizado o estacionamento. O acesso à ele se dá sem cruzamento com a circulação de pedestres. O estacionamento é coberto, e prevê 45 vagas para carros e 115 para bicicletas. Prevemos menos vagas que o solicitado com a intenção de privilegiar e incentivar o uso do transporte não motorizado, tão em voga atualmente. A limitação das vagas também incentiva a utilização a utilização do transporte coletivo, uma vez que há duas paradas de ônibus no perímetro do terreno e está prevista a implantação do Terminal Rodoviário Urbano próximo ao Paço.
EDIFICAÇÃO
O programa de necessidades nos levou à organizar o projeto em volumes distintos, mas articulados entre si, permitindo organizar os usos e concentrar a atividades afins. Ao centro desses volumes, um vazio é criado e o bloco de circulação vertical ocupa seu centro, sendo ligado aos edifícios através de passarelas. O acesso único e a circulação vertical centralizada organiza os fluxos para os andares superiores, permitindo a retirada de um eventual controle de acesso, ressaltando o caráter aberto que a instituição deve ter.
A ligação do teatro com os demais usos consolida o partido da centralidade do projeto. Ao concentrar os volumes de usos distintos, a idéia de abertura e aproximação do Paço Municipal com a população é reforçada, também aumentando a identidade com o espaço.
Para possibilitar essa proposta, foi necessária uma releitura do projeto do teatro dado pelo edital, inserindo-o no novo contexto e agregando maior valor arquitetônico.
TRATAMENTOS DOS VOLUMES E SUPERFÍCIES
Os quatro volumes são tratados com uma pele exterior em placas de cerâmica clara, formando um sistema de brises verticais pivotantes. Optou-se pela cerâmica devido à relação que o material tem com a região, conhecida pela qualidade de sua argila.
A pele unifica visualmente os volumes, e garantem o conforto térmico tanto do edifício, através do controle da insolação; quanto das praças e do vazio interno, permitindo a ventilação cruzada.
Aberturas foram propostas a fim de diferenciar e destacar alguns usos internos. Dois deles se destacam: o Plenária da câmara e o gabinete do prefeito. Além de abrir e revelar o trabalho realizado nesses ambientes e aproximar a população de seus representantes nos poderes legislativo e executivo, essa diferenciação marca suas presenças no conjunto. No plenário, ainda ressalta sua autonomia e independência funcional.
Por fim, uma cobertura em vidro e estrutura metálica em parte do vazio entre os volumes deixa passar a iluminação e protege da chuva, além de captar a água pluvial para reuso.
SISTEMA CONSTRUTIVO
O Paço Municipal de Várzea Paulista deve ter caráter exemplar. Baseado nessa premissa, o sistema construtivo também deve ser exemplar.
Foram propostos dois sistemas construtivos distintos, utilizados para aproveitar as melhores características de cada material.
Para os níveis dos térreos 720 e 724 foi proposto uma estrutura com lajes nervuradas em grelha e pilares em concreto armado moldado in loco. Nos níveis acima, os pilares em concreto continuam, com sistemas de vigas metálicas que formam balanços, livrando a fachada da estrutura. Lajes em concreto moldadas in loco sobre as vigas finalizam o sistema estrutural.